sexta-feira, 26 de novembro de 2010
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Os poetas não são azuis nem nada,
como pensam alguns supersticiosos,
nem sujeitos a ataques súbitos de levitação.
O de que eles mais gostam é estar em silêncio -
um silêncio que subjaz a quaisquer escapes motorísticos
e declamatórios. Um silêncio...
Este impoluível silêncio em que escrevo
e em que tu me lês.
Mario Quintana
Presença
É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.
Mario Quintana
Mística
No declive da escarpa, os anjos giram suas roupas
de lã sobre os relvados de ouro e esmeralda.
Prados de flamas saltam até o alto da colina.À
esquerda, o terraço da aresta é pisado por todos
os homicidas e todas as batalhas, e todos os rumores
desastrosos tecem sua curva. Atrás da aresta direita,
a linha dos orientes,dos progressos.
E, enquanto a banda no alto do quadro é formada pelo
rumor giratório e saltitante das conchas marinhas e
das noites humanas,
A doçura florida das estrelas e do céu e do resto desce
da escarpa, como um cesto, - contra nosso rosto,e faz o
abismo florido e azul lá embaixo.
Arthur Rimbaud
Céu
Céu
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