quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O Reino das Flores Azuis




Era uma vez um reino muito distante onde reinava um rei muito poderoso e como todos os poderosos, muito mau e mesquinho. Tal rei não se contentava com nada, nem bem tinha aumentado os impostos e lá vinham de novo os seus cobradores em busca de mais impostos, e ai daquele que reclamasse, o rei, era implacável na hora de castigá-lo. Não havia a quem apelar.

O rei, cercado de inúmeros interesseiros, possuía à sua disposição defensores de todo tipo: os advogados, os soldados, os economistas, os religiosos e o que mais fosse preciso para manter-se na posição desejada, fazendo valer sempre os seus desejos. O tempo passava e todos, à exceção da corte, reclamavam do rei, mas o que fazer? Sua majestade possuía praticamente todas as flores azuis que nos últimos anos tinha aparecido nas encostas das florestas nos arredores de seu reino. E mais: bastava saber que alguém tinha encontrado uma nova flor azul e pronto, lá vinham os cobradores de impostos confiscá-la. Assim a cada dia que passava, o rei mais rico ficava e, em contrapartida, os seus súditos ficavam mais pobres, fracos e miseráveis.

Aqui, cabe uma explicação: As flores azuis eram a origem de todo poder que um humano poderia almejar, quem as possuísse seria invencível, segundo a crença que vinha desde os tempos mais remotos. Crença essa muito cultivada pelos poderosos da corte e em especial pelos religiosos que viviam a pregar, difundir e cuidar para que o povo nunca a esquecesse. Acreditava-se que as tais flores azuis, possuía poderes que iam da cura da feiúra até a invisibilidade, daí, não era à toa que muitos já tinham perdido a vida na busca de tais flores, que ainda era considerada a mais linda da face da terra.

Fora o rei, poucos eram os afortunados que detinham tal raridade: um ou outro daqueles que viviam à sua disposição, permitia o rei que as detivesse, e mesmo assim em quantidades mínimas, somente o necessário para manter a diferença entre os pobres absolutos e os poderosos. Os anos se passavam e nada indicava que haveria mudança naquela triste situação que, aliás, segundo os mais velhos, já vinha de muito tempo, desde a época do bisavô do rei, Maosão I, o fundador do Reino das Flores Azuis.

Mas, eis que chegou no reino um andarilho, um homem vindo de muito longe e que nunca tinha ouvido falar das tais flores azuis. Assim sendo, estabeleceu-se em uma pequena choupana que construiu nos arredores da cidade e começou a dedicar-se ao que mais gostava e sabia fazer: cultivar flores amarelas. Trouxera consigo algumas sementes e, algum tempo depois, possuía um belo jardim. Belo para ele claro, pois jamais alguém daquele reino poderia imaginar alguém plantar flores e por cima flores que nada valiam, pois eram amarelas.

Logo, o pobre homem ficou conhecido como o louco do reino e era motivo de todo tipo de chacota. O rei, como todo poderoso, pouco se importou com o pobre diabo, que é como eles chamam àqueles que não são de sua laia, chegava a pensar que havia utilidade naquele forasteiro: - distraia os seus súditos. O povo também não estava nem aí, ignorante como podem ser os povos, chegavam a rir do pobre homem e sua tola dedicação àquelas flores.

Mas o tempo passou e aos poucos as pessoas começaram a gostar daquelas flores de cor esquisita, pois se não eram poderosas, pelo menos podiam ser observadas facilmente- eram cultivadas e ninguém as proibia de serem apreciadas, já que nada valiam. E de uma espiada aqui, outra ali, um dia alguém acabou levando uma para casa, escondido é claro, não por medo do rei, mas da chacota dos vizinhos. Assim, aos poucos, as pessoas começaram a gostar das flores amarelas. Já não se faziam chacotas e ninguém precisava esconder ao levá-las para casa.

Tempos depois, já era comum passar em frente a jardins de flores amarelas, havia até um zum-zum no reino de que as flores amarelas tinham tanto poder quanto as flores azuis. Daí a ninguém mais procurar flores nas florestas, as tais azuis, foi um pulo. No reino agora, só se falava no poder das flores amarelas, até mesmo, alguns daqueles que antes viviam ao lado do rei alardeando as flores azuis, agora já pregava a todo pulmão a importância das flores amarelas. E mais: a importância daquele sábio, que um dia chegou à cidade com as sementes e começou a cultivá-las.

As flores azuis começaram a sobrar pelas encostas das florestas, não havia ninguém para colhê-las - agora, a sensação era o tal sábio e suas flores amarelas. Quanto ao rei, acreditando em sua corte, não durou a segunda safra das flores amarelas: um golpe dos poderosos e lá foi ele para o calabouço. Um lugar frio e úmido de onde ele podia ouvir muito bem a musica dos festejos de seus antigos súditos. Quanto à corte, os poderosos, bem, esses estavam muito ocupados: - Os juizes mudando as leis e proibindo o cultivo de flores amarelas que, de agora em diante, seria crime inafiançável. - - Os religiosos amaldiçoando aqueles que ainda ousassem falar de flores azuis. - - Os soldados a cuidar das plantações para que ninguém chegasse perto daquelas belas flores cor-do-sol.

Quanto ao pobre diabo, que um dia chegara ali para plantar flores, continuava um pobre diabo, só que agora, ladeado dos mesmos interesseiros de outrora e coberto de ricas vestes ocupava-se de gravar seu nome na coroa: Palhação I, o fundador do Reino das Flores Amarelas. Já o povo ...

Fonte: www.saunet.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário