sexta-feira, 27 de novembro de 2009



























Quando voltares, põe na tua voz
aquela flor azul que te ofereci.
Talvez, assim, eu julgue reencontrar-te
e os olhos se encham, outra vez.

Ainda tens no gesto aquele susto
que se enrolava todo nos meus dedos
e punha à nossa volta
um colar de silêncios ardendo?

Tudo mudou, bem sei. Naquela tília
o Outono já começou;
e nas tuas palavras
algumas folhas devem ter caído.

Mas, se voltares, põe a flor azul,
põe o passado no gesto e na voz.
Talvez, assim, eu julgue reencontrar-te
e os olhos se encham. É tão fácil!

Bebe comigo o sol

Detém-te a meu lado. O tempo
necessário dum olhar
sem ontem nem amanhã.
Só luz. Quem não percebe
as cascatas latentes
numa sombra, e não ouve
o crepitar duma urze,
que contas prestará
dos seus olhos? Bebe comigo
o sol na concha do silêncio.

António Cabral

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